Na noite da última terça-feira (03),
operários da prefeitura de Bom Jardim demoliram a antiga estação ferroviária do
município. Dias antes, o prédio abrigava a secretaria municipal de Educação. O
assunto divide opiniões e ganhou grande repercussão nas redes sociais e
calçadas da cidade. O prefeito João Lira objetiva utilizar a área para outras
obras, que segundo ele, são necessárias e estruturadoras para o crescimento do
município. Em uma postagem no Facebook, o prefeito chegou a afirmar que as
declarações contrárias são de oposicionistas.
João Lira ainda disse que “quem anda
para trás é caranguejo”, numa referência ao fato de muitos defenderem a
preservação do prédio histórico. O gestor fechou a postagem pedindo que o
deixassem trabalhar e que ele sabe o que está fazendo. Uma moradora chegou a
postar que Bom Jardim assistiu o desmoronamento de mais um patrimônio histórico
de valor inestimável. A antiga estação de Bom Jardim foi inaugurada em 1937
como ramal que ligaria Recife ao estado da Paraíba. Pesquisas mostram que a
linha foi desativada no ano de 1968.
O prédio é protegido pela Fundação do
Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e integra o patrimônio
ferroviário estadual, que está em processo de tombamento desde 2006. A denúncia
da demolição do prédio chegou a Fundarpe através de e-mail. A gerência geral de
preservação do patrimônio cultural chegou a preparar uma notificação para
embargo da ação, mas o prédio foi demolido antes da notificação. A nossa
reportagem teve acesso ao documento:
“Senhor prefeito, através de denúncia
feita por e mail, fomos informados da demolição de bens integrantes do
patrimônio ferroviário de Pernambuco, que se encontra em processo de tombamento
pelo estado conforme edital publicado no diário oficial do dia 25 de outubro de
2006. Consta da denúncia a demolição de
elementos fundamentais ao patrimônio ferroviário deste município, a exemplo da
antiga estação, do armazém e do Dique.
Diante do exposto, solicitamos que
essa prefeitura averigue a veracidade da denúncia e, caso constatadas as
irregularidades, proceda ao embargo das obras em curso até que sejam
apresentados os projetos arquitetônicos para análise e aprovação da Fundarpe e
posterior licenciamento dessa prefeitura municipal.
Um embargo como prerrogativa para a
preservação de um bem tombado encontra guarida nos dispositivos legais vigentes
nas normas estaduais, além do prescrito na lei federal nº 9.605/1988 quanto ao
patrimônio cultural, e legislações específicas aplicáveis à matéria, referente
às responsabilidades civil e administrativa.
Via deste documento,
concomitantemente, será encaminhada ao representante do Ministério Público do
estado nesse município – para que tomem conhecimento e adotem medidas
pertinentes à matéria. No aguardo das deliberações, esta fundação se põe à
disposição para tratativas sobre a questão no que for solicitada”.
A nossa reportagem tentou ouvir o
prefeito João Lira, mas o secretário de Administração do município, Lúcio
Cabral, informou que o gestor estava cumprindo agenda administrativa em
Brasília (DF). Em resposta ao contato do G1, o secretário informou que o
município tem tido dificuldades de arcar com a manutenção de imóveis antigos.
"São vários prédios centenários, mas manter esses prédios funcionando é
difícil. Manutenção é cara", declarou. Ainda segundo Cabral, o município
tem priorizado a reforma de outros prédios. "O cinema da cidade, que
funciona como centro multicultural, foi reformado recentemente. O dinheiro é
curto, não dá para fazer tudo", afirmou.
Ainda de acordo com a reportagem do G1, o
secretário disse que o imóvel foi demolido, também, porque ficava na rota de
uma estrada que está sendo construída no interior do estado. "Essa obra
vai melhorar o trânsito na nossa cidade, que piora às quartas e aos sábados,
quando é dia de feira em Bom Jardim”.