Depois de ter o benefício do
seguro-desemprego cancelado antes de receber a terceira parcela, o motorista
José Ferreira dos Prazeres Filho, de 35 anos, que mora no município de Bom
Jardim, ficou surpreso ao saber que havia um contrato em seu nome como assessor
de Comunicação da Câmara de Vereadores do município. O problema se deu pelo
fato de ele, até março deste ano, trabalhar como motorista de caminhão, em um
armazém de construção pertencente ao vereador Antônio Belarmino, o Cobra (PP),
que só assinou sua carteira profissional após sete anos de trabalho
clandestino, tendo somente três anos registrados.
“Ele trazia um monte de papel para eu
assinar, e eu nunca soube que se tratava disso”, relatou José à Folha de
Pernambuco. Ainda de acordo com ele, ao procurar o Ministério do Trabalho, o
informaram que teria de devolver os dois salários retirados no benefício, pois
não teria direito, já que era registrado como funcionário da Câmara.
“Depois desse problema, eu tentei
ligar para o vereador, mas ele não me atendeu. Só enviou um funcionário da
Câmara com um documento”, contou José Ferreira. O documento em questão se
tratava de uma portaria assinada pela presidente do Legislativo, Valéria Lira
(PP), exonerando o rapaz da função que ele nem executava.
Mesmo estando prejudicado, o
motorista disse que não estava interessado em ser indenizado, mas só queria que
ele pudesse sair dessa situação sem demais problemas. Contudo, José Ferreira acionou
a Justiça, por meio do Ministério Público. Ainda segundo ele, Cobra nunca havia
assinado carteira antes, de nenhum funcionário, porém, ao mesmo tempo em que
sua carteira foi assinada, outros três funcionários trouxeram documentos para
ele assinar a CTPS. “O pior é que quando eu perguntei sobre como vai ficar a
situação dos sete anos clandestinos, ele disse na minha cara: ‘Se você acha que
merece mais do que eu fiz por você, procure a Justiça’”, relatou.
O vereador Cobra afirmou à reportagem
que a denúncia não procede. “Não sei o que aconteceu. Só sei que não tenho nada
a ver com isso”, disse. Ainda de acordo com o parlamentar, José Ferreira deve
“se resolver com a Câmara de Vereadores”.
Folha de Pernambuco